Você já ouviu falar de invisibilidade social?

 


No ano de 2008 um psicólogo brasileiro chamado Fernando Braga da Costa defendia a sua tese de doutorado na USP após ter feito mais de 10 anos de observações participantes e entrevistas, trabalhando como um Gari na própria universidade. No primeiro ano de trabalho, surpreendentemente, ao vestir o uniforme Fernando se tornou invisível: seus colegas, professores e amigos passam por ele pelos corredores da universidade e não o viam, não percebiam que era seu amigo vestindo um uniforme de gari. Este fenômeno viria a ser chamado pelo mesmo de invisibilidade pública (ou social).


“A invisibilidade pública é uma espécie de desaparecimento psicossocial de um homem no meio de outros homens” (Costa, 2004, p. 54)


Para o pesquisador, a invisibilidade pública era o resultado de dois outros fenômenos psicológicos/sociais que operavam conjuntamente: “A invisibilidade pública, desaparecimento intersubjetivo de um homem no meio de outros homens, é expressão pontiaguda de dois fenômenos psicossociais que assumem caráter crônico nas sociedades capitalistas: Humilhação social e reificação” (Costa, 2004, p. 63).


O pesquisador faz um recorte socioeconômico para a sua pesquisa, baseando-se na tradição marxista, e entende que a humilhação social se dá pelo fato de que a especialização do trabalho taxou algumas profissões como “segunda categoria”, e a reficação (que significa “coisificação”) pelo fato de que um homem, no sistema de exploração do trabalho, vale aquilo que produz, sendo uma mera coisa.


A pesquisa do autor nos remete à relação entre economia, relações sociais e psiquismo, mostrando como o ser humano é definido multifatorialmente, não apenas como ser individual, com sua singular história de vida, mas também pelo seu trabalho, pelos grupos sociais que ocupa, frequenta. É um interessante conceito em psicologia social que pode ser percebido em relações grupais ou nas multidões.


Referência

Costa, F. B. (2004). Homens invisíveis: Relatos de uma humilhação social. São Paulo: Globo.

Costa, F. B. (2008). Moisés e Nilve: retratos biográficos de dois garis. Um estudo de psicologia social a partir de observação participante e entrevistas. Tese de doutorado: Universidade de São Paulo. São Paulo.

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Sobre o autor:

Murillo Rodrigues dos Santos, Psicólogo (CRP 09/9447), mestre em psicologia pela Universidade Federal de Goiás, doutorando em psicologia clínica e cultura pela Universidade de Brasília. Diretor do Instituto Psicologia Goiânia.

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