Psicoterapia: um espaço para a aceitação e evolução


A psicoterapia possibilita ao cliente buscar a confirmação do que ele realmente é, para que através disso ele possa se aproximar de si mesmo e, desta forma das outras pessoas também. Mas você compreende o que significa confirmação?
É quando você precisa ser validado, aceito e reconhecido pelo outro sobre quem realmente você é, e quando isso não ocorre à tendência é se modificar para se adaptar ao outro em uma tentativa de ganhar aceitação; expressando uma forma não autêntica do seu “ser”, anulando sua singularidade em seu contexto de vida e nas suas próprias necessidades, para agradar ao outro e também de alguma maneira a si mesmo, e sem perceber acaba por fazer parte da vida de outra pessoa em um modo “aprisionado” de existir, o que pode causar angústia e outros sentimentos negativos.
A falta de confirmação principalmente no período de desenvolvimento da criança seria o principalmotivo de formação de problemas psicológicos. Friedman (1991 apud CHAGAS, 2016) explica que muitos pais têm modelos idealizados para seus filhos. Estes, por sua vez, apenas são confirmados e aceitos quando se mostram de acordo com esses modelos, mas não quando revelamos seu próprio estilo de existir. A relação então pode se tornar disfuncional, com graves consequências para o desenvolvimento
Por outro lado, porque buscar essa confirmação no outro? Porque o ser humano é um ser relacional, e precisa deste reconhecimento para estabelecer sua singularidade ou individualidade, que é o conjunto de características que o tornam único, e esta é reconhecida por meio das pessoas importantes para você, e se isso não ocorre, e também não se possuí o autoconhecimento, pode acontecer o bloqueio de partes fundamentais de sua experiência emocional.
Você pode se perguntar, “como ocorre a confirmação de quem sou no processo psicoterapêutico?” Acontece por meio da relação terapêutica  que se constitui através de parceria, confiança, compreensão mútua e investigação colaborativa. Na psicoterapia existe disponibilidade para analisar suas dificuldades com intenção de aceitação, e não de crítica ou evitação (JOYCE & SILLS, 2016). É comum o cliente iniciar o processo psicoterapêutico com preocupação em passar por desaprovações semelhantes às que já viveu, porém ao experimentar realmente ser confirmado, o cliente abre a porta de seu mundo para possíveis mudanças.
Além disso, Buber (1995 p.63) explica sobre a confirmação no processo psicoterapêutico.
Eu me torno consciente dele, consciente de que ele é diferente, essencialmente diferente de mim de uma maneira definida e única que lhe é peculiar. Aceito e assim enxergo de tal forma que posso plenamente direcionar o que lhe digo de acordo com a pessoa que é.
A confirmação de quem você é, da sua historia, do contexto em que você esta inserido contribui para:
Autoconhecimento
O autoconhecimento consiste em conhecer de modo profundo todas as partes que compõem a sua essência, descobrindo quais são as suas características principais, que fazem você agir da forma que age, ser quem você é, ou ter os resultados que você tem. Para adquirir autoconhecimento é preciso desenvolver consciência, ou seja, saber cada vez mais do que ocorre dentro e fora de você, estando ciente dos seus pensamentos, sentimentos, emoções e comportamentos.  É preciso tirar tempo para se perceber, se ouvir, identificar os seus medos com atenção e descobrir o que o seu interior te diz. Você é sua casa, e precisa parar pra organizá-la.
O desenvolvimento do autossuporte e autoconfiança
Suporte segundo o dicionário português constitui aquilo que é usado para sustentar, evitar a queda, ajudar, dar apoio e etc. Há dois tipos de suporte: o autossuporte e o heterossuporte, o primeiro é constituído por todas as partes do indivíduo que possuem capacidade para lidar com situações difíceis, o heterossuporte é composto por algo que vem de fora para ajudar o indivíduo, como por exemplo, outra pessoa. O trabalho da psicoterapia é fazer com que o indivíduo desenvolva e pratique de preferência o autossuporte, que contribui pra autonomia, ao invés do heterossuporte que favorece a dependência de ajuda. O objetivo é favorecer ao cliente clareza dos próprios meios e recursos para resolução dos seus problemas de maneira satisfatória. O autossuportefavorece principalmente a autoconfiança, que significa ter segurança em si mesmo e na sua capacidade de lidar com as mudanças inesperadas que ocorrem na vida.(PERLS, 1988). 
Realização de escolhas conscientes
É o aprendizado para realizar escolhas de acordo com suas necessidades reais, tendo conhecimento do que está ocorrendo no presente e clareza dos recursos disponíveis no momento da escolha.
Espontaneidade e criatividade
 É resgatar a vivacidade, espontaneidade e ousadia que frequentemente se perdem na maturidade, por consequência de crenças, comportamentos enrijecidos, inflexíveis ou repetidos. Ser criativo significa inovar na maneira de lidar com acontecimentos do seu dia a dia. 
Relações sociais saudáveis
Quanto mais confirmado e aceito você se sente maior é a probabilidade de aceitação do outro, assim como a possibilidade de posicionamento saudável do seu ponto de vista sem desmerecer o do outro, respeitando as diferenças presentes na relação.
Se você percebeu que não é aceito nas suas relações sociais e que se modifica constantemente naquilo que outro deseja a fim de ser reconhecido, talvez este seja o momento de investir em si mesmo e a buscarajuda profissional que poderá contribuir para seu desenvolvimento e prevenir o surgimento de sentimentos e atitudes disfuncionais como, ansiedade, insegurança, vergonha, timidez, baixa autoestima e sujeição ao outro.
A confirmação e aceitação promovem melhoria pessoal daquilo que o cliente não é capaz de visualizar no presente momento e buscar o processo psicoterapêutico poderá ser, para várias pessoas, a primeira possibilidade de serem ouvidas, cuidadas e percebidas por uma pessoa que leva os seus pensamentos, sentimentos e necessidades a sério, e isso, por si só, poderá ser de grande influência para o movimento de cura e autodesenvolvimento. Nesse mesmo sentido colabora também, para o cliente entender como esta se relacionando consigo mesmo, com o outro e com o mundo, possibilitando que esse experimente situações novas de uma maneira mais leve e responsável, além de buscar satisfazer suas demandas de forma mais pertinente para o momento. O trabalho do psicólogo será em auxiliar o cliente nesse caminho, conservando sua singularidade, de modo a promover que ele mesmo descubra os modos satisfatórios e saudáveis de se relacionar e, como resultado, de ser e estar no mundo.

Referências
BUBER, Martin. Introdução ao Pensamento Complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1995.
CHAGAS,Enila. Psicoterapia dialógica. São Paulo: Summus, 2016
JOYCE, Phil&SILLS, Charlotte. Técnicas em gestalt: aconselhamento e psicoterapia. 3°edição. Petrópolis: Vozes, 2016.
PERLS, Frederick S. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. Guanabara Koogan, 1988.

Sobre a autora:
Samara Sátila Batista de Araújo, psicóloga (CRP 09/01245) graduada pela Universidade salgado de Oliveira de Goiás (Brasil) atua com ênfase na clínica em Gestalt terapia atendendo adolescentes, adultos e idosos.

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