Afinal de contas, o que é uma abordagem psicológica?



Pode ser surpreendente em como uma pergunta tão simples possui uma resposta difícil de ser dada por psicólogos no dia a dia. A palavra “abordagem”, que aprendemos no primeiro período da graduação em psicologia, vive nas bocas dos profissionais, mas uma questão intrigante é que não existe uma literatura clara suficientemente no Brasil para especificar este termo e as suas implicações. Prova disso é que se nós pedirmos para um psicólogo explicar o conceito de abordagem ele provavelmente irá se complicar e dar um monte de sinônimos de outras coisas que não tenham necessariamente nada a ver com isso.

Para começar, há que se dizer que teoria e abordagem não são termos sinônimos: teoria é um conjunto de elaborações do pensamento humano que são utilizadas para descrever, explicar ou prever determinado elemento da natureza que está sob foco uma pesquisa (esta é a minha definição que está em fase de publicação). E por mais que uma abordagem seja, em sentido amplo, uma teoria, defini-la simplesmente assim é falho e incompleto, e direi por quê.

Em meu ponto de vista, uma abordagem é um conjunto de teorias que possuem uma cosmovisão (visão de mundo) específica, agrupadas para fornecer diretrizes de atuação e compreensão de/para determinados fenômenos. Ou seja, é um agrupamento de teorias que, por si, acaba formando uma nova (macro) teoria. Um exemplo, a Gestalt-Terapia, enquanto abordagem psicológica é composta pelas teorias de campo, organismica, holística, da Gestalt, etc. A psicanálise, enquanto abordagem é composta pelas teorias da mecânica dos fluídos, filosofia de Schopenhauer, filosofia de Nietzsche. Ou seja, um conjunto de teorias se agrupam para fazer com que determinado conjunto de fenômenos possam ser explicados com coerência e com possibilidades de ação/intervenção.

Mas é aqui o ponto chave: o conceito de cosmovisão! Não basta simplesmente colocar um monte de teorias juntas, mas é preciso traçar um fio condutor lógico que faça com que as teorias possuam coesão e coerência. Desta forma, uma abordagem é muito mais do que um “mix” de teorias, mas é um conjunto estruturado e coerente, que compartilha de uma visão de mundo específica. Ou seja, a cosmovisão é a lente pela qual o cientista consegue enxergar o seu mundo de fenômenos.

Essas informações são importantes para que o profissional tenha maior clareza em sua atuação e não pense que, a psicologia é um vale-tudo teórico que pode misturar tudo em um liquidificador. A preocupação com a parte técnica é questão de ética.

E você, qual a sua abordagem?
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Sobre o autor:

Murillo Rodrigues dos Santos, psicólogo (CRP 09/9447) graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Brasil), com formação em Terapia de Casais e Famílias pela Universidad Católica del Norte (Chile). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Possui formações em Gestão, Empreendedorismo e Políticas pela Fundação Getúlio Vargas (Brasil), Fundación Botín (Espanha), Fondattion Finnovarregio (Bélgica), Brown University (EUA) e Harvard University (EUA). Diretor do Instituto Psicologia Goiânia, psicólogo clínico e organizacional.

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