Pensamentos românticos que você não deveria ter sobre o amor



Desde o século XVII, vivemos em uma época muito peculiar da história do amor que chamamos de romantismo. Esse amor surgiu na Europa através de poetas, artistas e filósofos conquistando o mundo e atualmente tem o domínio silencioso de determinar às vezes, diretamente e indiretamente, o modo de muitas pessoas se relacionarem.

O objetivo desse texto é elucidar alguns ideais do amor romântico ou comportamentos que não contribuem para uma relação saudável e, consequentemente, que geram dificuldades e até mesmo rompimentos frequentes. Abaixo serão listadas algumas ideias centrais sobre a noção de amor romântico:

“O verdadeiro amor é sinônimo de aceitação completa do outro

Esse é um pensamento ainda muito presente nos dias atuais, a ideia de que o outro deve aceitar de forma genuína todas as nossas partes, desde as boas até as ruins. A verdade é que isso é um fardo muito pesado a se carregar, e com o passar do tempo esse fardo poderá resultar em algumas feridas que serão impossíveis de não serem notadas.

 É necessário ter consciência de que todos possuem qualidades e defeitos, e que em certos momentos surgirá a necessidade de melhorar alguns aspectos para o bem da relação, e isso irá requerer consciência e abertura para mudanças, ou seja, se colocar na condição de ensinar e aprender.  É ajudar o outro a tornar-se a melhor versão de si mesmo, enxergando no relacionamento uma oportunidade constante de se aperfeiçoar e ser aperfeiçoado.

Por exemplo: talvez seu parceiro identifique que você não possui a habilidade para finanças e adverte que você precisa melhorar nesse aspecto, ou que, até juntos, consigam chegar a uma conclusão do que fazer a esse respeito. Porém, o que na maioria das vezes acontece é a tendência de supor ataque ou humilhação a algo que seria para benefício pessoal e também para a relação.  “O amor deve ser uma tentativa acolhedora de duas pessoas para atingir todo o seu potencial – nunca apenas um local onde buscas endosso a todos os nossos defeitos”. (Theschooloflife, p. 56, 2018).

“Demonstrar interesse apenas no “amor” e desconsiderar outras necessidades importantes

Não tem como comentar esse tópico sem entrar nas condições do casamento ou da convivência cotidiana. É ter como princípio de o “amor nos basta”, e o resto nos será acrescentado. No começo de qualquer relação isso pode até se tornar real, porém com o passar da convivência a ficha cairá de que o amor não enche barriga, o amor não suporta a tampa do vaso levantada ou a toalha molhada em cima da cama, que o simples fato de sentir amor não deixará a casa arrumada e etc.

 A falta de diálogo antes de um passo maior na relação produzirá conflitos e até desgastes na relação. É fundamental discutir outros aspectos importantes que não sejam apenas a existência do amor. Exemplo: conversar a respeito da questão financeira do casal, de forma clara e direta é importante principalmente no começo da relação para refletir a respeito das necessidades que terão que ser satisfeitas no dia a dia, assim como também discutir se as toalhas devem ser penduradas ou deixadas no chão, como será a divisão do tempo e a realização de tarefas domésticas não é algo banal, mais sim algo sério e real na convivência a dois. Não é errado dar ênfase para o amor, porém deve-se ter o cuidado de não prevalecer em apenas um aspecto dentre tantos outros importantes. É buscar o equilíbrio do movimento entre a razão e a emoção.

“O sentimento de amor vitalício (para sempre)”

É a esperança de que o sentimento de amor do começo da relação durará a vida inteira sem ter que contribuir de alguma forma para essa duração. O amor não acontece de maneira espontânea, pelo contrário, ele é construído aos poucos e assim também poderá ser desconstruído com ações e comportamentos que não contribuem para relação. O para sempre, na maioria das vezes, contribui negativamente para o comodismo afinal isenta as pessoas, em algum momento, de contribuírem para a manutenção da relação. A realidade é que muita coisa pode dar certo em um amor de curto prazo. No consultório ou até no cotidiano ouve-se sempre aquela afirmação diante de um término da relação: “Não acredito que perdi tanto tempo da minha vida com fulano!”. A questão é que se não foi para sempre também não quer dizer que não significou nada, que não houve momentos felizes ou até aprendizados que possa ser levado para relações futuras.

“Compreender um ao outro intuitivamente”

Esse, ao meu ponto de vista, é um dos maiores erros cometidos nas relações amorosas. É a fantasia de acreditar que o outro irá adivinhar todos os seus desejos ou aquilo que te incomoda e, às vezes, até o que você está sentido. É aquele clássico problema na comunicação onde existem dificuldades em perguntar, responder e também de expor aquilo que se deseja com clareza. Além disso, os relacionamentos que se baseiam em expectativas que diferem da realidade tendem a gerar rupturas e sofrimentos frequentes, pois suas bases são muito fracas.

Percebe-se que o amor romântico sugere exigências a serem cumpridas que na maioria das vezes atribui ao outro características inexistentes , a fim de que suas necessidades sejam supridas por ele. O conflito tende a se estabelecer quando começa a apontar falhas na prática dos requisitos ideais do amor romântico, e diante da inaptidão para lidar com a realidade começa a surgir uma série de dúvidas, frustrações e sensações de que o relacionamento não está satisfatório.

Procurar ajuda profissional adequada poderá gerar muitos benefícios nessa área afetiva, como autoconhecimento, a identificação de situações ou atitudes que fazem mal para você ou para a sua relação, uma análise do seu contexto de maneira coerente, obter autorresponsabilidade, aprender possibilidades para lidar com suas faltas e falhas de uma maneira mais eficiente, e o ponto principal: Desenvolver-se plenamente na sua existência, pois o amor não é ruim mas uma grande parte das pessoas possuem dificuldades para lidar com esse sentimento, sendo que uma das condições que mais unem um casal é a vontade ou disposição para crescerem juntos.

Referências bibliográficas
The schooloflive: Relacionamentos. (2018) São Paulo: Sextante.
Cardella, B. H. P. (2009) Laços e nós: amor e intimidade nas relações humanas.  São Paulo: Ágora.

Sobre a autora:
Samara Sátila Batista de Araújo, psicóloga (CRP 09/01245) graduada pela Universidade salgado de Oliveira de Goiás (Brasil) atua com ênfase na clínica em Gestalt-terapia atendendo adolescentes, adultos e idosos.

Um comentário:

  1. Muitoo bom o texto!! Esta de parabéns! tudo aquilo que aprendi..e andei lendo por outros autores!...amor é construção!

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